[esquemaNovo]

Versão virtual da coluna [esquemaNovo] sobre música pop, produzida por Thiago Pereira e Terence Machado e publicada, todas às quintas no jornal "Hoje em Dia".

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Local: Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil

Pai, católico não praticante, taurino (por teimosia, hehehe), cruzeirense não ortodoxo, ainda jornalista, ex-baterista com recaídas frequentes, ciclista "pós-amador".

sexta-feira, novembro 12

ro [nº 14 - Especial TIM Festival 2004 / 1ª parte]



Kraftwerk – “Nós Robôs”

É preciso desacelerar os batimentos por minuto, pegar o Trans Europe Express e viajar pela música eletrônica do Kraftwerk para, então, compreendê-la. Ir direto ao Chemical Brothers ou algum outro artista do gênero pode provocar um êxtase instantâneo e passageiro e dar uma noção incompleta do que vem a ser o universo musical eletrônico. Afinal, os djs só chegaram aos “block rockin’ beats”, após o “boing boom tschac” dos alemães. Quatro homens que substituem robôs na manipulação de seqüências sonoras, batidas, vozes e imagens e, por fim, deixam os robôs substituí-los em uma das faixas do set. Eles inventaram o robot pop há trinta anos e ainda são capazes de causar a perplexidade em qualquer clubber de última hora, aditivado ou não! Quando a música tem qualidade, o “ecstasy” é causado única e exclusivamente por sua audição, não precisa ser ingerido! Melhor que o show de 98 no Free Jazz a começar pelo repertório quase perfeito, “linkando” o melhor do grupo. Uma experiência audiovisual como poucas!(T.M.)




PJ Harvey – “Uh Huh Her! A Perfect Night PJ”

A sensação é de que PJ Harvey foi a uma festa chique, no cd “Stories from the city, stories from the sea”. Fez shows de abertura pro U2, estampou capas de revistas de moda, etc. Com “Uh Huh Her”, ela parece ter “emendado”, depois da festa de arromba, indo parar num boteco copo sujo pra beber cerveja e tocar com os amigos(punks, diga-se de passagem!). E, se existe uma figura que consegue ser punk, sem perder o glamour, é Miss Polly Jean. Na segunda edição do TIM Festival, ela encarnou exatamente a musa(olha o glamour!) da cena alternativa(a porção punk mora aqui), como anunciado pelo “mc” Zuza Homem de Melo. Tocou um repertório que misturava perfeitamente seus grandes acertos, durante a carreira, acompanhada por uma banda que soube “traduzir” para o universo mais cru e despojado do cd recente mesmo suas as canções mais “confeitadas”. “A Perfect Day Elise” e “Big Exit” foram bons exemplos. Fica a certeza de que ela é uma das cantoras mais versáteis da cena pop, tanto no gogó, quanto na postura e aparência, justamente, por nunca ter deixado o underground. O inverso também é verdadeiro. Só PJ seria capaz de berrar “who the fuck” numa festa chique, sem causar constrangimento. (T.M.)

Primal Scream - “Eu era cego, agora posso ver”

Não é fazendo um mero show que uma banda bate a concorrência, principalmente quando a concorrência é Brian Wilson, ou PJ Harvey. Mas aquilo que o Primal Scream fez não foi um show, foi um estupro sonoro capaz de espantar ouvidos menos aventureiros. Claro que nem todos saíram ilesos da experiência, a começar pelo próprio repertório da banda. A acachapante “Burning Wheel”, por exemplo, perdeu seu poder de fogo (no sentido canábico da coisa) para se resumir em uma mera citação, onde o mágico refrão se transformou em um coro qualquer proferido pelo trôpego vocalista. A faixa de abertura, “Allright” serviu como ruidosa carta de apresentação do que seria o show, mas também como um balde de água fria para quem(como eu) esperava uma abertura mais clássica. Tipo “Accelerator”, ou algo do gênero.

Mas elas vieram, ah, se vieram. A chapa esquentou com “Kill All Hippies”, “Sick City”( dedicada aos Mutantes, a banda mais arroz de festa no quesito dedicatórias de banda gringa quando vem ao Brasil), “Medication”... E virou um pedaço de história na seqüência “Rocks”, “Kowalski” ( lesação eletro-mântrica) e , uma versão segura –que – o mundo –tá- desabando de “Swastika Eyes”, ensinando como uma música pode se agigantar quando apresentada ao vivo. Não precisava, mas ainda teve “Kick Out The Jams”, no último bis, em versão fiel a fúria original, o que dispensa maiores explicações.

Mas, espera aí: cadê “Come Togheter”, uma das melhores dance tracks de todos os tempos? Não veio. “Movin ´On Up”, sim, acompanhada de um coro suado, chapado e com a cabeça zumbindo, que vai reverberar durante muito tempo na memória emotiva dos presentes: “My life shine on!”. Eu ainda fico com a frase inicial deste monumento sonoro: eu era cego, e agora posso ver. Ver como se faz um show de ROCK. (T.P.)



Brian Wilson - Sons animais

As margens do Tim Festival, fiquei em pé e chorei. Quando Brian Wilson anunciou que iria tocar a “canção favorita de Paul Mc Cartney”, senti a garganta fechando, a voz sumindo...Estávamos todos presenciando a execução de “God Only Knows” ali, a poucos metros de distância do homem que, a quase quarenta anos, escreveu em menos de vinte minutos a “canção mais bela já escrita”. Epíteto que já virou clichê até, mas que fez todo o sentido quando seus versos se misturaram a suspiros, fungadas chorosas, e comoções gerais de todos.

(Às margens, porque me localizei estrategicamente nas laterais do palco principal, ao lado das mesas onde indies, tiozinhos, peruas, e grande elenco se acomodavam confortavelmente para passar uma noite com Brian Wilson, como prometia a produção do evento. E como bicão credenciado(?) que fui, me mantive em pé. )

Negócio é o seguinte: passar o currículo do homem aqui é perda de tempo, a questão se resumia em saber se ele conseguiria ficar acordado para o show ou não. A abertura com “Sloop John B” tirou todas as dúvidas quanto a isso, afinal era possível escutar todas aquelas vocalizações, a batida quase circense e, sim, a voz amiudada ,mas perfeita de Wilson . A banda de apoio repetia graciosamente alguns trejeitos dos garotos da praia, e mais do que mera figuração se apresentaram como peça fundamental para o show, garantindo a execução quase perfeita de obras perfeitas como “Wouldn´t It Be Nice?” e a espetacular dobradinha tirada do disco “Smile”, “Heroes And Villains” e aquela que foi eleita a alguns anos atrás como o melhor compacto que a música pop já produziu, “Good Vibrations”. No final do show , surpresa: “Surfin´USA”, “Barbara Ann”, entre outros clássicos. Sons animais, que botaram todo mundo fazendo corinhos e coreografias desavergonhadas embalados pelo pop em estado bruto , afogando qualquer possibilidade da apresentação ganhar o caráter solene que se esperava- ora, estávamos diante de um dos inventores da surf music- sinônimo musical para diversão, certo?

Chorei, dancei, a boca custou a fechar quando executaram “Pet Sounds”( “No voices, only instruments!” bradou ele), enfim passei uma noite com Brian Wilson. Foi bom para você meu amor? Sim, Brian, só Deus sabe que sim. (T.P.)



The Libertines - Tempo para heróis, mas não estes!

Histeria do público, histeria da imprensa, show transmitido ao vivo pela Globo, para a banda mais qualquer –uma do momento. Ruim? Não, não é. Bom? Não, também não. A palavra hype se apresentou em seu sentido mais exato durante a apresentação dos Libertines: confetes exagerados para uma banda sem nada de mais. Vamos deixar combinado o seguinte: o moleque que assistiu ao Mars Volta e saiu sem entender nada tem muito mais a ganhar que se descabelando ao som frouxo dos ingleses.(T.P.)



THE MARS VOLTA – “Mars não volta!”

Platéia reduzida a um terço, comparada a que ficou batendo palminhas no show do Libertines. Câmeras de tv apontadas para o chão e uma banda dando as caras, sem nem ser anunciada. Entram em cena dois cabeludos mal encarados, um dublê de leão-de-chácara nos teclados, além de três sujeitos aparentemente normais – um no baixo, um na bateria e outro na percussão. De repente, uma descarga sonora é arremessada na tenda do TIM Lab. E nada mais volta ao normal até o fim dos espasmos musicais do Mars Volta. E todos que ali estavam, ficam perplexos, pedem bis quando a banda sai de cena. Alguns mandam o corinho “Libertines vai tomar no c*!”. Quem não entrou para o coro devia estar tentando juntar os fragmentos de King Crimson, Led Zeppelin, Björk, MC5 e tantos outros que Cedric Brixler, Osmar Rodriguez & cia. despedaçaram, em pouco mais de meia hora, no TIM Festival 2004. Escalados de última hora pra engrossar o caldo rock do festival o Mars Volta escaldou um free jazz com toda a fúria, só pra contrariar(os fãs do Libertines). (T.M.)

Na segunda parte, mais comentários, rankings absolutamente subjetivos e emocionais, e memórias mil a respeito desta inesquecível edição do Tim Festival.