[nº 7 - “Queimar ou não queimar: é essa a questão”]
Uma das grandes lições apresentadas por Arnaldo Baptista e Brian Wilson em seus novos trabalhos é que não existe uma chave para desvendar o mistério acerca da condição humana. Principalmente quando esta se confunde com a arte, onde o envolvimento do artista com suas criações representa o esfacelamento da própria vida.
Arnaldo é o autor de um dos maiores tratados sobre a desilusão da música popular. Seu “Loki” (1974) expõe o músico encarnando fielmente em versos cortantes o anjo exterminador da mitologia greco/romana que inspirou o título do trabalho. Era o fim dos Mutantes, era o fim do sonho derretido em ácidos e amor livre, era o fim do romance com Rita Lee. E principalmente era o fim de uma era onde ser todos “uma pessoa só” não era lamber a utopia, era realiza-la nitidamente em forma de arte. Quando canta “você me disse adeus/Mas como, se somos todos de Deus” (“Desculpe”), deixa clara sua inadequação aos novos tempos. Inadequação esta que iria o acompanhar até a noite de 31 de Dezembro de 1981, quando pulou do terceiro andar do hospital onde estava internado.
Brian Wilson é o autor de um dos maiores tratados sobre a desilusão na música popular. Seu “Pet Sounds” (1966) é fruto direto da sua paranóia e frustração.Impulsionado por uma obsessão doentia com a riqueza musical apresentada em “Rubber Soul” dos Beatles, e guiado por traumas de infância não resolvidos, Wilson tomou como meta realizar um trabalho ainda mais ousado, passando adotar níveis de exigência sobre humanos. Isso significava dias solitários ao piano movido a drogas, absolutamente centrado em si mesmo e em seus fantasmas. Apenas a faixa de encerramento “Caroline No” se faz necessária para reduzir a pó toda a Califórnia dourada e banhada em esperança juvenil que guiava a obra de sua banda, os Beach Boys, desde então: “Para onde foi os seus longos cabelos/ Onde está a garota que eu conhecia?”. Outra faixa, “I Just Wasn´t Made For This Times”resumia bem a inadequação de Wilson aquele tempo. Inadequação esta que iria o acompanhar por mais de vinte anos em diversas internações, tentativas de suicídio, brigas judiciais e tragédias constantes.
Muitos não sobreviveram a aventura: de Nick Drake a Eliott Smith, Kurt Cobain e Renato Russo, Caio Fernando Abreu, Sylvia Plath...A lista é grande e representativa, poeticamente traduzida por Neil Young nos imortais versos de “Hey Hey, My My(Out Of The Blue)-é melhor queimar do que desaparecer. Venhamos e convenhamos: fazer da própria trajetória um espelho para sua criações ( e vice e versa) demanda uma certa capacidade de transitar pelos sempre perigosos caminhos entre a sanidade e a loucura, o racional e o passional, o amor e ódio. Que estes representam elementos vitais, imprescindíveis ao ser humano, ninguém, duvida. Mas o custo de se enfrentar o perigo frente a frente pode sair caro demais.
São poucos, como Arnaldo Baptista/Brian Wilson que tiveram a graça concedida de conseguir retirar do veneno o próprio antídoto. “Let It Bed”(de Arnaldo) e “Gettin´In Over My Head”( de Wilson), ambos lançados este ano, trazem, além dos seus sintomáticos títulos, a inadequação de seus autores transformadas em força vital. Nenhum dos dois trabalhos carrega a explosão criativa dos citados anteriormente, mas recolhem os cacos de duas trajetórias que, se quase perderam a vida pela arte, também por ela ressuscitaram. Se fizeram obras paridas da dor, deram a luz também a trabalhos que comprovam a beleza que é nascer de novo. Trazendo para si e subvertendo o célebre mote shakespeariano, Arnaldo sumariza: “To burn or not to burn/What´s the question?”. Brian provavelmente concordaria.Sorte nossa, como espectadores, poder acompanhar o dilema. “Louvado Seja Deus, que nos deu o rock n´roll”, canta Arnaldo. Louvado seja.(TP)
[velho esquema]
Ocean Colour Scene “Moseley Shoals”
Enquanto a Grã-Bretanha se dividia entre a popularidade e os hits de Blur e Oasis, em meados da década de 90, um grupo corria por fora do burburinho do showbusiness pra formatar um dos grandes discos do rock inglês (muito mais do que Brit Pop) daqueles tempos. Com timbres e levadas da melhor linhagem folk, riffs de guitarras herdados do blues e da grande era roqueira - os saudosos anos 60 - o Ocean Colour Scene disse, musicalmente, tudo o que precisava em “Moseley Shoals”.
Após uma estréia um tanto quanto tímida, a banda apareceu com esta jóia que logo virou referência para tudo o que ela própria faria adiante. No Brasil, apenas um dos petardos do cd chegou a tocar em algumas rádios - a eletrizante “Riverboat Song”, que abre uma seqüência arrasadora. “The Day We Caught The Train” vem, literalmente, colada à faixa de abertura e vai a fundo no resgate da sonoridade do Fab Four, em sua fase mais experimental. A belíssima “The Circle” não fica devendo nada para as famosas pérolas dos irmãos Gallagher. Duas baladas garantem momentos de refresco e ainda maior deslumbre, entre as seqüências ásperas e distorcidas do álbum: “Lining Your Pockets” e “It’s My Shadow”. E o blues “Get Away” começa arrastado, em voz e violão, pra explodir em acordes poderosos no final.
Fica difícil aturar a antipatia e o tom carrancudo da dupla de frente do Oasis, quando se descobre um verdadeiro oásis como este “Moseley Shoals”. Ao invés de compor de cara amarrada e ainda fazer disso uma estratégia de marketing poderosa, o OCS preferiu criar suas composições sorrindo e, neste caso, foi bem mais feliz, naturalmente. (T.M.)
[espaço hd] por Carolina Diamante >>produtora do programa Microfonia da PUC TV dá suas dicas:
Eddie, "Original Olinda Style"
a banda pernambucana tem um som bem dançante e que engloba muito da cultura da região.
Radiohead, "Ok Computer"
Não é à toa que este álbum foi considerado como um dos melhores de todos os tempos.
Mano Chao, "Clandestino"
é um som muito gostoso de escutar, as músicas deste cd ficam na cabeça.
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