[esquemaNovo]

Versão virtual da coluna [esquemaNovo] sobre música pop, produzida por Thiago Pereira e Terence Machado e publicada, todas às quintas no jornal "Hoje em Dia".

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Local: Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil

Pai, católico não praticante, taurino (por teimosia, hehehe), cruzeirense não ortodoxo, ainda jornalista, ex-baterista com recaídas frequentes, ciclista "pós-amador".

terça-feira, maio 3

[As iguarias musicais exóticas de Astronauta Pingüim]

Segundo o site Allmusic Guide, “easy listening” seria “música instrumental designada para ser relaxante (...) prazerosa e fácil para os ouvidos”. Alguns dos maiores nomes do estilo são Henry Mancini (criador de temas clássicos como “Moon River” e “Baby Elephant Walk”), o cosa nostra Sérgio Mendes, e claro, Ray Coniff, talvez seu nome mais popular. O gênero ganhou muita força na década passada com seu uso na trilha de filmes como “Four Rooms” (de Robert Rodriguez e Quentin Tarantino) e a série “Austin Powers” E se renova para o novo século na sua versão moderninha, o lounge, que poderia facilmente receber a mesma descrição acima, com o acréscimo de instrumentos e batidas programadas eletronicamente.

Mas que catzo está fazendo um gaúcho regravando clássicos da música pop gaúcha em versão easy listening? E pior, batizado bizarramente de Astronauta Pingüim (“O pingüim é apelido de infância. O astronauta é para ficar bem na ordem alfabética”) Se a referência no nome também o aproxima do termo Spaced Age Pop, freqüentemente usado para definir easy listening, não fica difícil encontrar outras pistas de que é realmente um adepto do estilo em “Petiscos: sabor churrasco/switched-on Bah!", seu disco de estréia. Do título, que brinca com a pecha “som de churrascaria” aos timbres de teclado onipresentes, até a capa kitsch (que faz referência ao clássico disco “Velvet Underground And Nico”), o disco é um legítimo representante tupiniquim do gênero, assim como os trabalhos da novata banda paulista Sala Especial, e está em sintonia com gringos saudosistas como o Combustile Edson.

Depois de integrar - e continuar participando - das bandas de boa parte dos conterrâneos homenageados em seu disco ( Wander Wildner, Justa Causa, Júpiter Maçã) ele esteve em BH, planeta Terra, no mês passado divulgando seu disco de estréia e adiantando para o público mineiro parte do repertório que estará presente em “Supersexxysounds”, seu próximo disco. Esquema Novo, praticando jornalismo espacial, interrogou esse astronauta durante sua curta aterrissagem na capital mineira. (TP)



O que seria, afinal, som de churrascaria - a primeira imagem que me vêem é um tiozinho se esbaldando de carne ao som de Ray Coniff...

È uma denominação mais tosca para o easy listening. O Lafayette (tecladista da época da Jovem Guarda, tocou em discos de Roberto e Erasmo Carlos) é um cara que faz isso desde os anos 60. Hoje ele é reverenciado, “cult”, mas na época era mega popular. Meu pai mesmo ouvia easy listening mesmo não sabendo (risos). Esse termo mesmo é mais recente.

O que você faz então é easy listening...

Uso elementos de easy listening. Eu chamaria de punk lounge.

O que!!?

Sim, porque o que faço é punk, não tem obrigação com nada. Sala Especial (banda paulistana de easy listening) é easy listening puro, tem essa obrigação de ser puro. Eu já uso elementos dos anos 80, como sintetizadores da época, por exemplo. È punk na sonoridade, no descompromisso com estilo e tal. Em uma música do disco novo sampleei “Hey Ya”( hit recente da dupla norte americana Outkast), outros não fariam isto.

Parece-me que hoje existe um interesse maior por esse papo de lounge, easy listening...

Aconteceu agora no Brasil, lá fora sempre foi levado a sério, comercializado... Lá existe muito respeito pela música instrumental, em qualquer área, rock, jazz. Tivemos aqui nos anos oitenta um tipo de jornalismo que adorava o último grito na Inglaterra - isso era o bom, o que já passou, era ruim. Então o respaldo da mídia se perdeu para estes caras, Lafayette voltou a tocar em churrascaria! Mas a nova geração não depende mais desse tipo de informação, as pessoas procuram hoje o que elas gostam.

Tenho que confessar: um trabalho como o seu só poderia ter a assinatura de um gaúcho mesmo.(risos) Por que eu tenho essa impressão?

Tenho uma teoria a respeito; Porto Alegre, há 15 anos atrás era, “longe demais das capitais” (risos). Essa distância criou no Sul um mercado interno próprio. Isso influenciava inclusive no acesso a informação, então a gente ficava ouvindo rock progressivo, Jovem Guarda, aquilo que seu pai ou seu irmão mais velho gostava... As novidades chegavam sem a mesma velocidade de hoje, só os mais descolados, tipo Edu K ( vocalista da banda oitentista De Falla) conheciam coisas como Red Hot Chilli Peppers...Então o gosto dos donos das lojas de disco acabavam sendo a sua informação. Então, temos esta fama de ecléticos, mas somos bastante seletivos também - apenas o que é bom em cada gênero!

Por isso eu tenho a certeza que os gaúchos reunidos no seu disco devem ter se sentidos bastante honrados com suas versões...

Eles adoraram. A escolha do repertório foi baseada nas coisas que eu me identificava mesmo, não entrou Engenheiros do Havaii, por exemplo. No início, nem pensei em editora, foi independente mesmo. Depois que fundei meu selo, tive de trabalhar nesta parte burocrática, buscar autorizações e por isso o disco demorou quatro anos para sair.

O uso dos equipamentos certos é fundamental para conseguir essa sonoridade easy listening não?

Sim. Alguns acham que sou radical, só busco equipamentos dos anos 60, mas não é verdade (entre os equipamentos do músico então um teclado Moog e um órgão Crumar de 67). O que eu busco é uma sonoridade orgânica, mesmo que seja através de sintetizadores modelos ano 70 ou 80. Mesmo um teclado estragado pode fazer parte de uma canção minha. Minha preocupação maior é a pesquisa, busco instrumentos antigos há 10 anos. Tenho 15 teclados, um baixo do início dos anos setenta, guitarras...

Falando nisso, ouvi falar que você é possuidor da famosa guitarra de ouro dos Mutantes, é verdade?

Sim, de uma delas. No período que o Cláudio César ( luthier e irmão mais velho dos Mutantes Sérgio e Arnaldo) trabalhou com eles, ele construiu mais ou menos 30 guitarras para o Sérgio Dias. E ele ia aperfeiçoando cada modelo, criando novas guitarras com efeitos mais avançados e a marca especial que era o uso de um filamento de ouro nas bordas, o que encarecia o instrumento. Consegui uma que pode ter sido a mesma que foi usada na capa do disco “Tropicália - ou Panis Et Circenses” e que foi usada nos dois primeiros discos da banda.

Quais são as próximas viagens do Astronauta, em formato CD?

Estou trabalhando em uma demo com o repertório baseado no rock nacional dos anos 80, mas executado com mais ênfase no moog, anos 70, linguagem easy listening. Ultraje a Rigor ( “Ciúme”), Ritchie (“Menina Veneno”), Lulu Santos(“Tempos Modernos”), Leo Jaime, entre outros são alguns dos escolhidos para esse novo projeto. Seria uma continuação do “Petiscos...”, focando o BRock. E finalmente, meu disco de inéditas, o “Supersexxysounds” que lançarei pela minha gravadora, Pinnapple Music. Sim, será provavelmente outro trabalho conceitual; nesse caso, a respeito de algumas musas minhas. Em música instrumental é muito fácil colocar título, então, esse está repleto de uma citação às mulheres que admiro como (a apresentadora infantil) "Eliana" (a jornalista) "Ana Paula Padrão",( a atriz) “Uma Thurman”... Uma delas, “Linda Boyle” já está disponível no Trama Virtual (www.tramavirtual.com.br).

Mais informações em: www.astronautapinguim.cjb.net