[nº 20 - Alternativa Monstro!!!]
A produtora e selo goiano fechou 2004, com um respeitável catálogo de 60 títulos, dois festivais anuais – o Bananada e o Goiânia Noise – e quase toda uma cena aos seus pés. Isso ficou evidente na décima edição do Goiânia Noise que embalou a cidade, durante três dias, há dois fins de semana, com um diversificado repertório e cerca de 40 artistas se apresentando nos dois teatros do Centro Cultural Martim Cererê.
O melhor foi constatar que o público que, praticamente, lotou o local nos três dias de evento, estava lá para ver e rever bandas de estilos variados, conhecidas ou não. Viva a curiosidade! E pode-se dizer que a Monstro também é responsável por isso. É que a produtora, desde o início, vem promovendo festivais e lançando vários discos, sem estar focada em apenas um gênero musical. A última leva de lançamentos do selo, que veio à tona na ocasião do Goiânia Noise 2004 escancara essa “tática Monstro” de apostar na diferença.
Sim, é claro que o primeiro foco do selo esteve nas bandas de rock garagem mas, aos poucos, essa postura mudou. Entre os cds mais recentes da Monstro, dois são de música instrumental, um passeia entre o pop e o brega e um finca o pé no rock garageiro, com letras em inglês. “Bad Ass Rock ‘n roll” é o segundo disco do MQN, banda local liderada por um dos “quatro monstrengos” – o produtor e vocalista Fabrício Nobre. O cd mostra uma nítida evolução do stoner rock cuspido pelo quarteto. É fácil um dos melhores lançamentos do rock “made in Brasil”, em 2004. E um ouvinte desavisado pode jurar que a faixa “Let It Rock”, por exemplo, é um hit de alguma banda californiana. Incrível perceber também o padrão e qualidade de gravação que os artistas do circuito independente têm alcançado.
O terreno instrumental, por sua vez, está muito bem representado por outros dois lançamentos recentes de lá. Um é “Ativar Retrofoguetes”, a tão esperada estréia dos baianos do Retrofoguetes num cd completo. O grupo mistura surf music com psychobilly e tem uma pegada poderosa. Anos de estrada e teste de dois dos integrantes do Retrofoguetes, à frente do finado Dead Billies, contribuiram e muito pra isso. Deixando possíveis vocais, quem sabe pra outra hora, os gaúchos do Pata de Elefante pisam num solo adubado com influências bem distintas, que vão do folk rock psicodélico dos Byrds até o funk do lendário Funkadelic. Os 15 temas instrumentais registrados no 1º disco do grupo mostra uma coesão impressionante para um trio tão novo. Bem vindos ao front!
Do sul para Goiânia e, daí, para o resto do Brasil, outra boa novidade é o rock escrachado, curto e grosso dos Irmãos Rocha. Eles soltaram há pouco pela Monstro “Ascensão e Queda dos Irmãos Rocha” – um cd com 20 faixas, sendo que apenas uma delas ultrapassa a “barreira” dos três minutos e a grande maioria não chega aos dois minutos de duração. Enquanto o Pata de Elefante se diverte compondo temas trabalhados, o quarteto André, Mauro, Raul e Bel Rocha desembaraçam ao máximo todos os nós da linguagem pop. As letras são bem humoradas e repetitivas, como a linha rítmica e os arranjos das suas “vinhetas musicais”.
Bom humor é também o que norteia “Clube Quente dos Sapatos Bicolores” do Sapatos Bicolores. O visual adotado por esse trio é bem anos 50 e o som remete ao rockabilly, à jovem guarda e ao pop brega brasileiro. Esse é o primeiro lançamento da Monstro no formato digipack (com o cd muito bem “embalado” numa luxuosa caixinha de papelão, ao invés da tradicional caixa de plástico) pra encher os olhos e os ouvidos!
Esses são apenas os discos mais recentes produzidos pela competente trupe, lá de Goiás. Autoramas(RJ), Astronautas(PE), Barfly(GO), Detetives(SP) e muitos outros já ganharam o mercado com o incentivo e iniciativa da Monstro Discos e estão pipocando por aí. E olha que a produtora é apenas uma das várias plataformas de lançamento espalhadas pelo Brasil.
Passou da hora de muita gente procurar novidades, bem distante das falsas promessas das majors, antes que o Monstro do mercado independente fique grande demais!!! (T.M.)
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