[esquemaNovo]

Versão virtual da coluna [esquemaNovo] sobre música pop, produzida por Thiago Pereira e Terence Machado e publicada, todas às quintas no jornal "Hoje em Dia".

Nome:
Local: Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil

Pai, católico não praticante, taurino (por teimosia, hehehe), cruzeirense não ortodoxo, ainda jornalista, ex-baterista com recaídas frequentes, ciclista "pós-amador".

sexta-feira, fevereiro 25

[n° 22 - 2005 chegou, façam suas apostas...]


Na primeira edição de 2005, [esquema novo] faz suas apostas em busca da boa música nacional. Como é habitual no jogo de máscaras do mercado fonográfico, a lista vai mesclando veteranos já consagrados, promessas para o panteão pop e novatos buscando seu lugar ao pódio. Entram na lista trabalhos lançados no segundo semestre de 2004, mas que só agora testarão seu poder de alcance e trabalhos prontos para serem lançados (como é o caso do Pato Fu), além de artistas que agendaram novos lançamentos para este ano. O carnaval, na verdade, começa agora:

Lobão: tem a missão de lançar um novo trabalho que faça frente famosa trilogia, que rendeu pelo menos dois discos essenciais (“Noite” e “A vida é doce”), para garantir que, assim como nos anos 80 e 90, seu nome também seja lembrado quando o assunto for boa música na nova(nem tão nova assim mas...) década. O espírito deve ser outro: ao contrário da sofisticação discreta dos trabalhos mais recentes de estúdio, o lobo pode se juntar a seus pares “menos evoluídos”, o Cachorro Grande(reprisando em disco a parceria que rolou no último festival Porão Do Rock, em Brasília, quando rosnaram “Helter Skelter”, dos Beatles). Perdão do trocadilho muito infame, só que, dosados os ingredientes certos, o disco pode sair animal! Antes disso, o Cachorro Grande garante que as próximas horas serão ainda melhores, lançando seu terceiro disco no primeiro semestre - ainda bafejado pela boa repercussão que teve o anterior, encartado na revista Outracoisa.

Cascadura: a veterana banda baiana (formada em 92!) chega com gás e nome renovado, e pode se estabelecer como um dos melhores combos rock em atividade no país, com repertório pronto para ser consumido em fartas doses pelo grande público. “Vivendo Em Grande Estilo”, lançado no ano passado pela Rio 8 Records, a despeito da fragilidade de algumas letras, é rock n´roll tocado por gente que entende do babado, saudosos dos bons momentos do Barão Vermelho pós – Cazuza, sem esquecer de referências atuais espertas como Teenage Fanclub e Queens Of The Stone Age. Tem um bônus: a conterrânea Pitty vai naturalmente jogar luzes sobre o grupo, já que o guitarrista Martin é também o atual escudeiro das seis cordas da banda que acompanha a cantora. Torça para que a autêntica balada rocker “Queda Livre”, ou o pique anfetamínico de “Retribuição” alcance seus ouvidos surrados - vai valer a pena.

Los Hermanos: Dificilmente perderão o posto de banda mais amada do Brasil, atualmente. Mesmo lançando um trabalho inferior(pode ser que isso nem aconteça), os cariocas hoje já alocaram o coração(literalmente) de um público carente de uma dieta menos carregada em tempero hardcore, letras ruins e malandragem comprada no Bazar do Zé Mané. A dúvida que fica é se o culto vai aumentar ainda mais. Se Camelo resguardar um pouco da sua sensibilidade sambista classuda para compor grandes músicas para Maria Rita e aproximar o diálogo com o universo quase paralelo de Rodrigo Amarante, unindo–se isso a uma fundamental experiência de três discos nas costas, pode esperar um forte candidato a disco do ano.

Fred 04: Enquanto a histórica turnê da Orquestra Manguefônica(Nação Zumbi + Mundo Livre S/A) vai relembrando “Da Lama Ao Caos” em todo o país, Fred 04 apronta na míuda seu disco solo, talvez em busca da ternura endurecida no último e panfletário disco de sua banda, “O Outro Mundo de Manuela Rosário”. Provavelmente arquitetado sobre o samba de Jorge Ben e sua “Tábua De Esmeraldas” (disco de cabeceira do pernambucano), o novo cd pode abrigar uma obra mais suave, mesclando a popularesca cafajestagem com as odes a musas que habitam o imaginário do autor. Coisa que sabe fazer muito bem: uma vista rápida ao seu repertório de banda e encontra-se pérolas como “Quarta Parede”, “Leonor”...

Gustavo Black Alien: lentamente, o rap nacional vai se distanciando da sombra causada pelo discurso em carne viva, monopolizado pela periferia paulista, e alcança texturas mais ensolaradas, graças a bandas da ponte Rio-Niterói, onde os cariocas Gustavo Black Alien e De Leve rimam “na maciota” um cotidiano mais relax. “Babylon By Gus - O ano do macaco”, lançado no fim do ano passado é a aguardada estréia do ex-Planet Hemp Black Alien e impõe com louvor o poder de aderência dos versos envelopados em reggaes e raggamuffins espalhados pelo disco. Melhores exemplos são a faixa título e a impagável “Perícia Na Delícia”. De Leve lançou o projeto “Caramujo Sonolento” no ano passado e deve soltar mais um atrevido petardo este ano, registrando em disco algumas inéditas que têm apresentado em shows como a “Melô Do Piratão”.

Trinidad/ Mordeorabo: dois trabalhos mineiros quase que diametralmente opostos. Os primeiros, músicos profissionais em busca da balança perfeita entre a canção pop bem acabada, mas de estruturas pouco usuais no mercado pop atual - letras que beiram o literário, ausência de refrões, lirismo exagerado - uma espécie de entroncamento entre os clube esquinistas, rock nacional dos anos 80 e a alta voltagem gerada nos anos 70, que pariu o belo “Alfaiataria”, em 2003. Já o Mordeorabo trabalha mais próximo ao conceito de música livre (pós-rock?), que também pode ser aplicado aos paulistas do Hurtmold. Na ausência de rótulos mais esclarecedores, confira os shows cada vez mais disputados dos caras na Obra. (T.P.)

Jumbo Elektro: 2004 foi o ano do Jumbo Elektro? Em São Paulo, sim, mas em outras partes do Brasil a dominação dos paulistanos tem tudo pra acontecer mesmo no ano que está apenas começando. O septeto é o que melhor representa as diferentes misturas e multiplicidade de estilos dos tempos “mudernos”. Completamente à vontade para utilizar a regra do “ctrl c-ctrl v” da informática – o famoso copiar, colar – o Jumbo Elektro fez do seu disco de estréia “Freak to meet you” um belo Frankenstein, com boa parte da estrutura “corporal” aproveitada dos restos da fulminante cena electro, vários detalhes sugados da new wave oitentista praticada por nomes como B-52’s, Devo e Duran Duran e, por vezes, alguma costura mais tosca e choques elétricos do punk e hard core pra criatura ganhar vida. Os sete integrantes também souberam encarnar personagens hilários, entre eles, Frito Sampler e Dimas Turbo, que formam a “personalidade” inconstante do monstro. Vários elementos apontam para o humor e a alegria circense da Blitz, numa versão futurista, claro. As deliciosas “Freak Cat” e “She has a penis”, levantam até defunto. A versão de “TV Eye” de Iggy Pop e seu Stooges, em roupagem electro punk, é acertadíssima! Hoje, no Brasil, poucas bandas tem tanto poder de fogo pra entreter ouvintes dos mais variados, com gostos e níveis de exigência bem diferentes. Fiquem atentos às boas ofertas desse verdadeiro magazine sonoro.

Pato Fu: apostar no Pato Fu é garantia de, no mínimo, resgatar o investimento, no final, sem perder um tostão. A coesa carreira do grupo garante isso. Foram seis discos de estúdio até aqui, com uma regularidade incrível, e um ao vivo que cumpre muito bem o seu papel. Agora, fora da major BMG (após 10 anos de contrato), os mineiros pensam na possibilidade de andar com as próprias “penas”. Mesmo que percam algumas pelo caminho, podem ajudar a fortalecer a cena independente e, quem sabe, colaborar para a grande virada a favor dos músicos, contra o esquema caduco e ordinário ainda manipulado (aos trancos e barrancos) pelas grandes gravadoras. Com o sétimo disco de estúdio saindo do forno, o Pato Fu pode revigorar, com as costumeiras doses de criatividade, uma cena que, às vezes, peca nesse “detalhe”. Quantidade o mercado alternativo sempre teve. Quem já teve a sorte de ouvir o novo e esperado trabalho do quarteto, antes mesmo do seu lançamento, afirma que vem aí mais um disco arrebatador! Alguém aí duvida? (T.M.)