["Vá de retro, Satanás" porque Jack e Meg estão de volta à cidade!"]
Num julgamento rápido pode parecer que está coluna dá atenção demasiada ao casal Meg e Jack White. Só que num período relativamente curto, o primeiro semestre deste ano, essa dupla ultradinâmica do pop atual chacoalhou o mercado mundial três vezes. Foram ações diferentes, dois lançamentos distintos e uma nova turnê, cercados por um diferencial e tanto: qualidade. O dvd “Under Blackpool Lights” teve seus maiores atributos levantados, aqui no [esquema novo], há pouco tempo. Falta, então, falar de “Get Behind Me Satan”, o novíssimo cd, e da sua turnê de divulgação que acaba de passar pelo Brasil.
Partindo do pressuposto de que o White Stripes é um “gato de sete vidas”, pois a longevidade é algo cada vez mais raro no feirão da música popular descartável, poderíamos afirmar que esse novo disco é a quarta reencarnação do grupo de listras pretas, vermelhas e, principalmente, brancas. Cumprindo o seu papel no “corpo” iniciado em Detroit, no ano de 1997, o “espírito roqueiro” reaparece ainda mais evoluído do que nas últimas investidas – “White Blood Cells” e “Elephant”. Dessa vez, já chegou exorcizando os demônios que certamente o atormentaram no passado. Duas imagens do encarte antecipam, visualmente, as intenções. Numa delas, o lugar que seria de Meg é ocupado pela virgem Maria. E na outra, as mãos do casal quase se tocam, numa alusão ao “Juízo Final”, pintado por Michelangelo, na capela cistina. Religião e rock, pão e circo reunidos com brilhantismo. Também, o título “Get Behind Me Satan” já diz quase tudo. É algo como “vá de retro, Satanás”. E pra chegar ao atual estágio evolutivo, Jack e Meg White continuam dando seu recado de forma arrasadora, fazendo quase todo mundo esquecer que o White Stripes é um grupo de rock ‘n roll aleijado – digamos! Não tem baixista e se vira nos 30, 40 ou no tempo que for preciso com uma baterista limitadíssima. Como qualquer portador de deficiência, o duo consegue suprir a falta de um membro, a partir do desenvolvimento exacerbado de outro. E esse outro é o vocalista e guitarrista Jack, dono de um talento ímpar no hype contemporâneo. É mais do que a foca que equilibra a bola (no caso, a Meg), na ponta do nariz. É também o palhaço de roupa e bigode engraçados que leva o público ao delírio, cantarolando músicas e revelando arranjos que parecem piadas pop de tão boas. Um bom exemplo das suas graças é “My Doorbell” – terceira faixa do recém-lançado trabalho. E quando precisa domar sua ferina guitarra o faz com chicotadas intimidadoras e dignas de respeito e subserviência. É o que se vê, no momento em que, fora da jaula, a fera do hard rock ruge, mostra as garras, mas está o tempo todo sob o absoluto controle do seu domador. Faixas como “Blue Orchid” e a acachapante “The Denial Twist” dá mostras explícitas de como Jack liberta criaturas perigosas, entre elas AC/DC e Led Zeppelin, mas nunca deixa que tomem conta show e nem provoque maiores estragos.
Em outros momentos bem mais bucólicos, até porque eles são predominantes em “Get Behind Me Satan”, marimba, piano e violão compõem a trilha para alguns dos melhores e inesperados números do rock ‘n roll circus criado pelo White Stripes. O primeiro é apresentado logo de início no espetáculo, envolvendo uma enfermeira – a minimalista “The Nurse”. O picadeiro dá lugar a cowboys, fantasmas, cavalos, bailarinas e equilibristas, no country “Little Ghost”. A inspiração caipira ainda uiva de melancolia em “White Moon”. E essas duas faixas remetem à banda que Jack ajudou a criar no clima rural do filme “Cold Mountain” estrelado por Nicole Kidman e a ex-senhora White - Reneé Zellweger. Pra platéia nunca apagar da lembrança a base dos outros espetáculos do grupo, blues e rock rasgados, rodeiam “Instinct Blues” o equivalente ao “globo da morte”, no cd show do casal White.
É normal uma banda incomum fugir do lugar comum até na hora de escolher onde pretende descer a lona. O exotismo do White Stripes trouxe a nova turnê ao Brasil com uma das datas, em Manaus, num show que se confirmou histórico, pelas próprias circunstâncias selvagens. Tudo ficou ainda mais pitoresco porque Jack saiu do Amazonas casado com a modelo inglesa Karen Elsen, numa cerimônia realizada por um pagé, em cima de um barco, no encontro das águas do Rio Negro com o Solimões. Quer maneira mais espiritual pra ficar de bem com a vida e espantar o demo? “Cruz credo”, deve ter pronunciado o capeta, com o rabo entre as pernas, diante de mais uma redenção do White Stripes.(Terence Machado)
1 Comments:
vc consegue partituras (de piano) como the denail twist?
brunoscalzi@hotmail.com
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