[Prêmio Claro: “E a grande vencedora é: a música independente brasileira!”]
Em primeiro lugar, nada mais justo do que soltar o grito: “é campeão!”. Foram dois anos na vice-liderança pra, finalmente, este ano o Alto-falante ganhar o Prêmio Claro (ex-Dynamite) de Música Independente, na categoria melhor programa de televisão. A cerimônia de entrega aconteceu no último dia 10, no teatro Sérgio Cardoso, no bairro Bela Vista – o popular Bexiga – na capital paulista. A vitória é legítima já que foi conquistada não apenas com os votos de meia dúzia de jornalistas, produtores e músicos da área que conhecem bem o programa, mas, principalmente, com a escolha maciça da audiência. E é aí que se torna perceptível uma grande mudança no cenário televisivo, no que diz respeito à divulgação de música, levando em conta os diferentes canais e emissoras que se propõem a isso.
Ponto único: o Alto-falante produzido pela Rede Minas, nos últimos oito anos, e veiculado nacionalmente pela TV Cultura-SP, num horário pra lá de ingrato (nas madrugadas de sábado para domingo à 01h da manhã), deixou pra trás três concorrentes da linha de frente da emissora cuja primeira palavra do nome é “Music”. Ou seja, a tal tv de música descuidou tanto da sua matéria-prima, ultimamente, que vários dos seus antigos e fiéis telespectadores, inclusive este que aqui escreve, têm mudado de comportamento. Gradualmente eles vêm deixando a emissora exaurir sua força comercial criativa, em programas de variedades pra adolescentes de até 15 anos, enquanto buscam novas fontes musicais televisivas de controle remoto em punho. É que alguém que gosta realmente de música não consegue levar a sério um jornalismo musical, conduzido, em outros tempos, por gente como Zeca Camargo, Gastão Moreira e Fábio Massari, que de uns tempos pra cá entra no picadeiro com VJs como o Rafa, Sarah e Léo Madeira. Nada pessoal contra os últimos, o problema é musical e jornalístico mesmo! É preciso ter bagagem e, claro, competência até pra falar de música! Senão um programa do ramo vira o mesmo esquete de cultura inútil que domina boa parte das mesas redondas sobre futebol, que têm de tudo, menos quem entende de verdade do assunto. Aliás, a “emetevê”, como diria Caetano, criou por último um programa que parece mesmo um desses tediosos blá, blá, blás futebolísticos. Como um agravante, os VJs popstars(não necessariamente nesta ordem) da emissora ficam conversando sobre suas preferências com a mesma profundidade com que são debatidos assuntos “mais sérios” no talk show da Hebe. No que toca (ou melhor, no caso, não toca) a questão musical, se você espremer tudo o que eles falam, não sai nem informação de release. E, ampliando isso para toda a programação do canal mencionado, se você torcer e retorcer tantas horas dedicadas a temas como comportamento, variedades, futilidades, imbecilidades e humor, somente as últimas gotas irão emitir algum som! Aliás, parece até piada o fato da “emetevê” hoje só conseguir acertar a mão em programas de humor como “Hermes e Renato” e “Rock & Gol”. Quem sabe não está na hora de mudar o nome para CTV? Traduzindo: Comic Televison! Daí a embalagem teria a ver com o produto.
Voltando ao produto que ainda interessa a muita gente – a música – e também ao Prêmio que apontou há pouco mais de uma semana, quem anda fazendo diferença no mercado independente brasileiro, vale dizer que a justiça foi feita. Justiça à maior banda de rock ‘n roll da atualidade que levou o prêmio de melhor disco de rock – o Cachorro Grande (com “As Próximas Horas Serão Muito Boas”), e ao cara que primeiro cuspiu no esquemão gravadoras-jabaculê-rádio, esquemão esse que mandou para o exílio da cena alternativa o que é produzido de bom nesse País. Lobão levantou o troféu de personalidade dessa mesma cena e ergueu o de melhor revista para “Outra Coisa” que ajudou a emplacar – uma publicação sobre música, com cds de artistas relevantes do pop nacional - encartados e vendidos em bancas e lojas de jornais e revistas. A banda capixaba Dead Fish se deu bem na categoria “melhor disco de punk e hard core” com o cd “Zero e Um”. Tão certo e merecido quanto isso foi Black Alien ganhar o prêmio de melhor disco de rap/ hip hop/ black music com seu “Babylon by Gus – O Ano do Macaco”. E, com cada macaco no seu galho, um a um, os prêmios caíram nas mãos certas (o Alto-falante faz parte da “tirinha premiada” e, quer saber, modéstia às favas nessa hora!). A grande injustiça ou equívoco da noite talvez tenha sido a gravadora Trama ficar com o troféu de “melhor selo/gravadora independente”. É que perto da Monstro Discos de Goiânia, com um catálogo que já ultrapassa sessenta títulos dedicados exclusivamente a bandas e artistas da ala alternativa brasileira, a ação da Trama foi nula, no ano passado. Fora dessa categoria (selo/gravadora) a empresa (que de independente não tem mais quase nada) até bancou uma empreitada importante e significativa para a cena – a Trama Virtual, capitaneada pelo produtor Miranda. Fora o pequeno desajuste, quem melhor que Rogério Skylab pra receber o prêmio de melhor disco de mpb, já que Wado e Mombojó concorriam (e não levaram!), na categoria “melhor disco de pop”? A vinda dos Pixies e Teenage Fanclub também não foram suficientes pra fazer o Curitiba Pop Festival tirar do tradicionalíssimo Abril Pro Rock o prêmio de melhor evento.
A estrutura ainda é mambembe, vide o telão que descia perigosamente torto sobre as cabeças dos participantes da cerimônia de entrega do prêmio, duas caixas de som que caíram, durante a apresentação do Ramirez, entre outros micos de produção. Mas a festa arquitetada pelo pessoal da revista Dynamite para jogar holofotes e premiar simbolicamente todos que trabalham sério pela música de qualidade produzida no Brasil deixou claro uma coisa: dias ainda melhores virão.(T.M.)
e-mail: colunaesquemanovo@gmail.com
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